quarta-feira, 1 de junho de 2011

Frei Betto: A Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.

No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”??).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama??).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrim??nio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por J??natas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.


http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/frei-beto-a-igreja-nao-tem-o-direito-de-encarar-ninguem-como-homo-ou-hetero.html

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Crescem assassinatos de gays no Iraque, diz relatório da Human Rights Watch

Milicianos estão torturando e matando homossexuais no Iraque, em uma campanha sistemática que já deixou centenas de mortos no país desde 2004. A denúncia foi feita nesta segunda-feira pela Human Rights Watch (HRW), importante organização de defesa dos direitos humanos, em um relatório que exige atitudes urgentes do governo iraquiano.

" A mesma coisa que costumava acontecer a sunitas e xiitas está ocorrendo agora com os gays "
Segundo a ONG, as chamadas "limpezas sociais" representam um novo risco à segurança, mesmo em um contexto em que outros tipos de violência ganham força. O relatório cita depoimentos de pessoas que tiveram suas casas invadidas por grupos armados, usando máscaras. Outras testemunhas relatam ter encontrado corpos de homossexuais em lixões, mutilados e apresentando sinais de tortura. Às vezes, palavras ofensivas são inscritas nos corpos.

A Human Rights Watch denuncia ainda que homossexuais iraquianos também são vítimas dos chamados crimes de honra, em que gays são mortos pelos próprios familiares, que agem alegando defender a respeitabilidade de sua família.

A organização afirma que integrantes do grupo xiita Exército do Mehdi estariam à frente da campanha, mas que também haveria envolvimento da polícia. No documento, a ONG cita relatos de que forças de segurança do governo teriam "apoiado e participado dos assassinatos".
- A mesma coisa que costumava acontecer a sunitas e xiitas está ocorrendo agora com os gays - disse um médico, referindo-se ao período de disputa sectária no país. O profissional, ele mesmo um gay assumido, afirmou que perdeu vários amigos assassinados.

Recentemente, posteres foram vistos na Cidade Sadr - uma área xiita, conservadora, de Bagdá - pedindo às pessoas que denunciem gays e dêem não apenas seus nomes, mas também seus endereços. Quase 90 homossexuais foram mortos no Iraque desde o início de janeiro e muitos outros estão desaparecidos, disse o relatório da HRW, intitulado "Querem nos exterminar".
O relatório diz que muitos homossexuais iraquianos fugiram para países vizinhos onde, embora a atividade homossexual seja proibida, o risco de perseguições é menor. Segundo a ONG, as ameaças e abusos se alastraram da capital iraquiana, Bagdá, para cidades como Kirkuk, Najaf e Basra, embora as perseguições sejam mais concentradas em Bagdá.

- Ouvimos histórias, confirmadas por médicos, de homens que tiveram cola aplicada em seu ânus e depois foram obrigados a tomar laxantes, o que leva a uma morte muito dolorosa - disse Rasha Mumneh, um dos autores do relatório.

As autoridades do Iraque dizem que parte do problema em lidar com os ataques é que os parentes das vítimas raramente dão informações à polícia.